Não tenho guardada na memória uma
definição acadêmica de o que é ser de esquerda, que pudesse retirar aqui,
agora, da cartola.
Como disse um educador, que a velha
memória também não lembra o nome – a idade? O álcool? O desencanto? –
conhecimento é o que fica depois que esquecemos.
No entanto, entendo que ser de esquerda
é estar ao lado do trabalho, do trabalhador, do coletivo, da inclusão; ser de
direita, ao contrário, logicamente é estar ao lado do capital, do investidor,
do individualismo, da exclusão.
Estes são dois grandes grupos que
enxergam o mundo através de sua classe, seus interesses, e por incrível que
parece, por seus ideais. Mas diversas são as formas e ações dos que se dizem ou
dos que formam a esquerda, militantes ou não.
A direita é mais coesa e não tem
dúvidas ou debates acerca dos caminhos e dos fins a ser atingido, o objetivo é
o lucro e tudo que estiver em seu caminho, lhes atrapalhando, tem que ser
destruído, se possível com armas a base de urânio empobrecido.
Tenho lido vários artigos na net, nos
blogs sujos é claro, a respeito dos embates de nosso tempo tão em ebulição, e,
como dizia o meu chapa Terêncio, “cada cabeça, uma sentença”, é normal e
salutar que surjam divergências sobre assuntos que aparentemente todos os
sujos, progressistas ou esquerdistas, em tese, concordariam, não sem críticas,
mas com críticas à esquerda, nunca se deixando levar pelo discurso do inimigo:
o capital, tão bem representado pelos EUA, Israel, OTAN e pelo PIG nacional e
internacional.
Passo a listar alguns temas,
exemplificativos, que dividem o grande bloco de esquerda, não só na blogosfera:
Chávez; início do governo Dilma; ditaduras árabes; Líbia, OTAN, etc.
Acreditava que o olho do furacão não
voltaria a tempo de minha ínfima existência terrena pudesse ter o desprazer de
vislumbrá-lo, mas as coisas estão aí: crise estadunidense, europeia, novos
governantes aliados a um recentemente processo de democracia popular: Lula,
Chávez, Corrêa, Evo Morales; energia nuclear; revoltas populares nos países
árabes, etc.
O mundo está um caos, e isto é muito
bom, pois a ordem em que se mantinha, e ainda se mantêm, estando o monstro
ferido, mas não morto, é sabiamente de um pesadelo que só se sobrevive lutando,
para os fortes; enchendo a lata de álcool ou antidepressivos, para os fracos ou
se mantendo num estado extremo de alienação.
Com a mesma surpresa de viver um tempo
de mudanças profundas, se para o bem ou o mal, só o tempo dirá, ou os
privilegiados videntes e profetas, lembram de Fukuyama? Fico surpreso em ler
posições tão díspares em blogs que aprendi a admirar seja pela inteligência dos
argumentos apresentados, a visão acima do muro dos seus articulistas e posições
mais à esquerda em assuntos que, se não geram unanimidade, que é um caminho
para a ditadura de opinião, levaria a críticas, repito sempre pela visão mais à
esquerda.
Já li textos em blogs sujos criticando
Lula a partir da visão do PIG, da mesma forma críticas, inclusive apelando para
palavrões e argumentos falaciosos ao Presidente Chávez, etc.
Mas é isto, vivemos num momento de
explosão da palavra, num espaço não dominado exclusivamente pela grande mídia
empresarial, viva a diversidade e a blogosfera!
A questão da Líbia é outro divisor de
águas, ninguém hoje defende Kadafi incondicionalmente, – após o mesmo se abrir
para a Europa Ocidental, privatizar empresas e serviços públicos, fazendo com
que a corrupção se alastrasse na Líbia – existem críticas que devem ser feitas
à esquerda, mas, negar os avanços sociais da Líbia sob sua gestão antes da
capitulação ao ocidente em 2002, bem como achar que o povo líbio não tenha
capacidade de perseguir e lutar por suas mudanças é a mesma coisa que acreditar
que os EUA, a Europa e a OTAN querem o bem da humanidade.
Pergunte a qualquer iraquiano qual é a
pior ditadura a de Sadam ou a de Tio Sam?