Marinaleda

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RESIGNAR-SE, NUNCA!

sábado, 6 de abril de 2019

MINHA HISTÓRIA COM AS DROGAS


Tenho uma experiência pessoal a respeito do uso de drogas, lícitas e ilícitas.

Aos 11 anos de idade comecei a utilizar bebidas alcoólicas. Eu era muito tímido, e o álcool dava-me coragem para sorrir, conversar, “paquerar” as meninas, etc.

Aos 15 anos, ainda usando o álcool, aliás, uso-o até hoje, tenho 51 anos, experimentei maconha pela primeira vez, não gostei, mas para me afirmar no grupo fumava vez ou outra, mas sem prazer algum.

Do meu grupo de umas quinze pessoas, da infância até a adolescência,  entre homens e mulheres, um morreu de acidente de carro dirigindo embriagado e o outro de AIDS. A morte por aids nada teve há haver com as drogas, mas por transmissão sexual, ele era bissexual, e na época pouco se sabia sobre a doença.

Na minha casa só eu bebia, mas meus pais e minhas três irmãs fumavam cigarros, e muito, uma ou duas carteiras por dia, isto durou uns vinte anos. Uma de minhas irmãs, com 49 anos, teve câncer de mama, não sei qual o percentual do cigarro na doença.

Eu bebia muito. Às vezes a ressaca moral durava dez vezes mais que a ressaca causada pelo álcool, mas nunca consegui parar. Aos 23 anos descobri que tinha depressão, quem nunca teve não sabe o horror dessa doença, é algo que não desejamos ao mais asqueroso ser humano.

Apesar da bebida, estudei, fiz graduação, pós-graduação e comecei um mestrado que não terminei por que tive uma longa crise depressiva (2002). Agora estou novamente em crise depressiva, desde maio de 2012.

Apesar da bebida, e do eventual baseado, fiz vários concursos e hoje exerço um cargo que é o top para a minha graduação. Não me acho especial por isso, mas tira o peso de que eu iria fracassar, sob o ponto de vista capitalista, por ser um alcoólatra. Hoje não acho tão legal ter seguido a minha carreira atual, queria mesmo era ser jornalista, mas, ce la vie.

No meu trabalho, tenho um grupo de amigos, eu e mais três, todos bebem muito. C. é matemático e filósofo, além de ser o melhor ser humano com quem já tive contato aqui no planeta; A. é matemático e J. é economista e historiador, conversar com eles numa mesa de bar é como estar em uma aula de humanismo, história, filosofia, entre outras coisas.

Casei, tenho três filhos e dois netos; continuo bebendo para aguentar viver neste planeta tão injusto, sinto-me impotente e bebo para a vida não ser tão amarga, para não cometer suicídio.

Continuo a consumir várias drogas, entre elas, vários remédios para depressão; agrotóxicos nas frutas, legumes e vegetais; conservantes e diversas substâncias cancerígenas em alimentos embalados, enlatados, engarrafados, etc.

Por tudo isso sou a favor da descriminalização de todas as drogas ilícitas. É um sonho que não verei, nem mesmo a maconha, droga tão leve e que não causa qualquer dano social, está longe de ser descriminalizada. O tráfico de drogas movimenta bilhões de dólares anuais em todo o mundo, além de ser casado com o tráfico de armas. Derrotar esta indústria bilionárias é quase impossível, ou melhor, é impossível.

Recife, 2013.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

“Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais” (Raul Seixas)



Um general do desgoverno bolsonaro sugere reverência semanal à bandeira do Brasil (Bolsonaro, ao contrário, prefere reverenciar a Bandeira dos EUA). Não vou citar o nome do general, pois era um desconhecido e daqui a pouco tempo será sempre um desconhecido. Basta dizer general para que possamos imaginar, sem erro, o seu perfil: alguém dotado de uma capacidade mental subutilizada, capaz de, ocupando um alto posto na hierarquia governamental, falar abobrinhas inaproveitáveis, insignificantes e toscas. Não ouço dos generais brasileiros uma palavra de carinho, de ânimo, de amor ao povo ou à pátria brasileira.

Qual a formação desses oficiais? Que livros leem? Por acaso aprendem apenas sobre guerras e não sobre paz? Sobre subserviência (aos EUA) e não sobre soberania? Leram “A arte da guerra”, de Sun Tzu e conseguiram, nas entrelinhas, apreender lições sobre a vida? E “É isto um homem”, de Primo Levi.? Tem algum escritor preferido? Já leram algum poema ou romance? São perguntas que fazemos diante da homogeneização do pensamento militar brasileiro, sempre à direita, sempre subserviente.

Reverenciar uma bandeira, no fim das contas um pedaço de pano, mesmo com um significado emotivo, me lembra o reverenciar o bezerro de ouro da bíblia, seria mais um conselho de algum pastor picareta, interessado apenas no dinheiro dos fies, fies estes que pensam que podem compra deus com dinheiro, é risível, mas traz estragos à sociedade.

Moramos todos num mesmo planeta, um pequeno ponto azul dentro da imensidão do Universo, frágil, a mercê de cataclismos naturais. Um meteoro ou um supervulcão, como o de Yellowstone, nos EUA, acabariam com a nossa mesquinha e malévola espécie. Bandeiras e fronteiras, no final das contas, servem apenas para exacerbar o xenofobismo, o racismo, o pré-conceito com os migrantes. Somos um só povo, vivemos num só muno: o planeta Terra, ansiosos por subsistirmos unidos e em harmonia com a natureza. Ouçamos os poetas, ouçamos o Mestre Raul Seixas.

Patriotismo, nacionalismo, de verdade, é proteger nossas riquezas e não há um general que o faça publicamente, – se é que há os que o façam na vida privada, impedidos de se pronunciar pela hierarquia pré-histórica das forças armadas – nenhum protesto contra a venda da Embraer; a entrega de Alcântara; a destruição da Petrobrás, da Eletrobrás; a favor das nossa riquezas minerais; ao contrário, em 2018, o ministro do exército general Eduardo Villas Bôas ameaçou o STF – acovardado, como falou Lula – com um golpe, caso fosse concedido habeas corpus ao Maior Presidente que este país já teve, este sim um grande nacionalista.

Ou seja, os militares não jogam o jogo democrático, mas o da chantagem; não trabalham à luz do dia, mas na surdina. Por que fazer proselitismo com a bandeira e o patriotismo do povo? No mínimo, falta de respeito.

quinta-feira, 28 de março de 2019

GILMAR MENDES E OS REPULSIVOS


Atualizado em 04/04/2019, às 19H:48min.

Vendo hoje os ataques realizados pela direita ao STF e em especial ao Ministro Gilmar Mendes pelos bolsominions e lavatistas, observamos como é líquido o cenário político; como é líquida a confrontação de forças; como, a partir da globalização,segundo Zygmunt Bauman, as relações passaram a ser líquidas (múltiplas, combinadas e diversas), e as identidades do sujeito refletem-se, logicamente, no jogo do poder.

Gilmar sempre foi, desde que assumiu uma cadeira no STF em 2002, galgado por FHC, o ministro mais forte da Corte; o mais carismático; o ministro mais fiel aos ideais políticos dos que o levaram ao Supremo; o ministro, de longe, mais corajoso para assumir as suas posições sem qualquer medo de retaliação de qualquer espécie, pois que protegido pelo stabelichment, pela ordem, pelo Poder.

Não sou um admirador de Gilmar Mendes, ao contrário, mas, reconheço o seu talento político, a sua coragem e a sua lealdade a uma visão de mundo da qual sou opositor.

Lembro que em 2005, num seminário de Direito Administrativo que participei em Belo Horizonte, o palestrante era o jurista, advogado e professor Celso Antônio Bandeira de Mello, e, quando o assunto passou a ser o STF o palestrante não poupou críticas aos Ministros: vaidosos ao extremo não mereciam palmas, para ele o único Ministro digno de tal expressão era o Ayres de Brito, que no final deu no que deu.

Mas o que quero ressaltar é que naquele 2005 ninguém que não fosse da área de direito, e olhe lá, eu mesmo não sabia, conseguiria dizer o nome de meia dúzia de Ministros. Naquela palestra além de Ayres de Brito eu sabia nominar Joaquim Barbosa, por ter sido o primeiro negro a integrar o STF, indicado por Lula. Que desastre de indicação, e dizem que teve o aval de, entre outros, Frei Betto, a quem muito admiro.

Naquele ano ainda não havia acontecido o reality show do Mensalão petista. A partir dali, com a anuência e empolgação da maioria dos Ministros os mesmos ficaram nacionalmente conhecidos e viraram atração e instrumento para a caça aos esquerdistas. O reality foi o embrião da Lava Jato. O teste para a reimplantação do liberalismo econômico no país; primeiro, com o impeachment de Dilma-2, a que nunca deveria ter sido (que decepção); depois, com a destruição da economia pelos lavateiros e, por fim, a prisão de Lula que possibilitou a eleição de Bolsonaro, o Coiso.

Gilmar e o Supremo deixaram que a democracia fosse relegada a segundo plano, bem como a Constituição, tudo em nome de prender Lula e expulsar o PT da luta política e, claro, destruir a política mínima de inclusão social dos trabalhistas. Tudo era permitido, todos falavam grosso com Lula, o PT e as esquerdas. Os monstros foram liberados para combater os avanços civilizatórios e os direitos trabalhistas. Os monstros criaram corpos e ficaram incontroláveis. Sem a grande mídia, claro, sócia do capital financeiro, nada disso teria sido possível.

Hoje o Supremo tenta reparar os danos causados a sua imagem, não por que de repente entenderam que remavam para o lado da barbárie, mais porque agora eles mesmos, Toffoli, Gilmar e companhia passaram a ser alvos dos Monstros e da barbárie que ajudaram a criar e a sobrevivência está ameaçada.

Agora Gilmar e companhia sabem o que é conversar com o autoritarismo. Os governos do PT eram exageradamente republicanos, de um republicanismo ingênuo, o de Bolsonaro exageradamente irresponsável, buscando plantar o caos para tentar colher o que Jânio Quadros não conseguiu.

Assim como Gilmar Mendes é o “cara” da direita no STF, ou era, - infelizmente nenhuma das indicações do PT têm 1% da fibra de Gilmar – o mais repulsivo ministro, apesar da enorme concorrência – Toffoli, Fux e Luis Roberto Barroso –  é o Edson Fachin, que segundo Luis Nassif(1) se submeteu às pressões externas, abrindo mão de suas convicções, que acredito não era verdadeiras, e passou de progressista a extremamente punitivista e contrário as pautas da esquerda com a qual se dizia aliado: “Eu tenho lado!”.

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Os militares, os robôs e as pensões na nova fase do capitalismo


Em tempos distópicos, acelerados com a eleição de Bolsonaro e uma agenda fundamentalista, tanto nos costumes (educação, religião, etc.) quanto na economia (escola de Chicago), passamos a ter uma sensação, inclusive física, com o aumento da intolerância e da violência, que os fins dos tempos chegaram e que a humanidade falhou no seu projeto de civilização, mas, por incrível que pareça, o buraco é mais embaixo.

Para nós brasileiros, com a possível e provável extinção de todos os direitos trabalhistas e com o fim da previdência pública, uma guerra contra a Venezuela, a mando dos EUA, nos transformará num inferno, portanto, o buraco não tem fim.

Em tempos de desemprego em alta, vislumbrasse num futuro próximo uma maior escassez dos mesmos com o desenvolvimento de robôs cada vez mais inteligentes, substituindo a mão cheia os trabalhadores humanos (1) e forçando os salários para baixo (2).

A cada nova geração de robôs – que pode ser menor que um ano calendário – mais empregos e mais baixos salários vão sendo acumulados na conta negativa da humanidade, pois, pelo andar da carruagem da história nós nos mostramos insensíveis com a condição daqueles mais necessitados, por isso, guerras, desemprego, fome e doenças não são suficientes para sensibilizar os 1% mais ricos do planeta (3).

Até em relação ao sexo os robôs já estão competido com os humanos (4). Portanto, nenhuma profissão hoje existente está livre de ser substituída por robôs. Até e medicina será mais segura e eficiente – para os que possam pagar por ela – quando for exercida por máquinas inteligentes e que não erram.

Por que então haveria a profissão de polícia ou soldado ficar a salva da evolução tecnológica?(5) Ao contrário, é só da uma busca no Google que você saberá que países como EUA, Rússia e China estão investindo maciçamente em soldados robóticos, assim como em drones que de maneira mais segura e eficiente substituirão soldados humanos.

Soldados humanos são caros, facilmente eliminados, sofrem com os efeitos das guerras, têm sequelas físicas e mentais, o que tem como conseqüência gastos elevados com saúde. Enquanto vivos recebem salários, mortos geram pensão para seus dependentes.

“Como faço para manter a autoridade sobre minha força de segurança após o evento?  Esta pergunta foi feita ao pensador Douglas Rushkoff por um grupo de milionários.(6) E por que foi feita? Por que a “minha força de segurança” é composta por humanos que precisam de recompensas como salário, proteção, reconhecimento, etc. E quando os robôs passarem a ser essa “minha força de segurança”? Todas as recompensas serão desnecessárias, os gastos serão reduzidos e os lucros aumentarão.

Essas minhas considerações vieram a tona em vista da reforma da previdência pública que o governo Bolsonaro quer realizar. Na verdade não se trata de reforma, mais de destruição da previdência pública (7) que passará a ser parte do butim dos Bancos que sugarão, para nunca mais devolver, toda a poupança feita pela população, inclusive o FGTS.

Talvez fique fora da reforma os militares e juízes, talvez, mas é bem provável. Mas um dia, não digo os juízes que são filhos das elites, mas policiais e militares de baixa patente serão, com certeza, substituídos por máquinas e não terão mais necessidades de receber a proteção social que hoje recebem.

Segundo o Ministério da Defesa (8) em 2013 o Brasil possuía um quantitativo de 359.386 militares, incluindo, Marinha, Exercito e Aeronáutica e excluídos os policiais militares, quantos destes serão necessários para conduzir robôs cada vez mais sofisticadíssimos que a cada dia substituem mais a mais seres humanos? Talvez 10% (por cento) e todos com a patente de oficiais e altamente capacitados tecnologicamente.

Infelizmente os militares brasileiros – principalmente os do Exército, que são os que mais barbaridades alardeiam – não são patriotas. Só uma pequena parte, – sem voz – talvez. E o digo por que – e esta é a sua maior missão, constitucional inclusive – não protegem as nossas riquezas. O pré-sal está sendo vendido a preços ridículos; (9) empresas de base qual a Embraer vendida a Boeing; projetos, como o submarino atômico e os caças suecos, abandonados; o Aquífero Guarani, que provavelmente será comprado pela Nestlé, etc., nada é motivo de preocupação dos militares brasileiros, que, com uma agenda da antiga guerra fria, estão mais preocupados em dizer que a ditadura de 64 não foi ditadura (10), ao invés de pedirem desculpas ao povo e passarem a uma nova página da história, invocam fantasmas dos quais deveriam se envergonhar.

O que deveria diferenciar o militar de outro servidor público ou de um civil era apenas a farda, ou seja, as funções desenvolvidas; sem farda o militar é apenas um cidadão comum como todos nós outros, com desejos, medos, necessidades e humano, demasiadamente humano quanto qualquer um nascido no planeta.
Hoje não, mas amanhã com certeza, os militares serão excluídos pela elite financeira mundial, e serão descartados, como são os demais trabalhadores, pelo avanço tecnológico, e ai, sem mais as forças das armas, não servirão nem para força auxiliar dos EUA (11) quanto mais para defensores de uma pátria falida.

Ainda há tempo. E o inimigo vem do norte.
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