Marinaleda

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RESIGNAR-SE, NUNCA!

domingo, 21 de dezembro de 2014

CUBA, ADEUS?


O reatamento das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, mediados, entre outros, pelo Papa Francisco, é uma grande vitória do povo cubano que a mais de 50 anos luta pelo fim do criminoso bloqueio econômico imposto à ilha pelo governo imperial dos EUA.

Ademais, o bloqueio não foi suspenso, apenas as relações diplomáticas foram refeitas, nestes primeiros momentos, só com o tempo, e lentamente, poderão vir a ser desmontadas todas as engrenagens jurídico-terroristas das sanções econômicas.

Nada que venha dos EUA, qualquer gesto, por mais simpático que possa parecer, pode ser encarado como um aceno ou movimento em busca da paz e conciliação, - que o digam os povos da Líbia e Síria, que sob o governo do Nobel da paz (sic) viram o seu povo e o seu país serem dizimados - pois, o histórico imperialista e agressivo do país impossibilita tal interpretação.

Uma dúvida que me assaltou, logo que li a notícia na internet, foi por que só agora os EUA buscaram uma aproximação com Cuba? Por que não há dez anos ou daqui a vinte anos?

Os bastidores destes acontecimentos, o jogo de xadrez, só virão a tona aos poucos. Quando sobre eles se debruçaram estudiosos e jogadores em busca de esclarecimentos históricos e interpretações das jogadas.

Com minha limitada visão geopolítica, e carente de maiores informações, vislumbro que o fortalecimento dos BRICS e a aproximação deste grupo com Cuba e com toda a América Central, fez soar o alerta vermelho nos ianques, e foi um, senão o maior, dos motivos que levaram o Tio Sam a rever seu posicionamento, ou seja, oportunismo.

Há algum tempo a Espanha e a Venezuela já haviam desrespeitado o bloqueio imposto pelos EUA. O Brasil e outros países da América Latina também. A China está construindo um canal na Nicarágua que irá aposentar o canal do Panamá. O Brasil o porto de Mariel.

Isolados na América do Sul - apesar do seu grande aliado, a Colômbia, que exerce o mesmo papel que Israel no Oriente Médio, isto é, desestabilizar o continente – que busca diversificar seus parceiros comerciais, bem como se unir em blocos regionais, MERCOSUL, UNASUL, etc., para uma maior independência do gigante faminto do Norte, os EUA, por receio da influência destes atores na América Central decidiram, numa grande jogada em nome da paz, mas da paz à moda estadunidense, buscar não perder mais espaços.

Uma Cuba livre do bloqueio econômico, que é o que se vislumbra futuramente, e socialista, é algo que os EUA de maneira nenhuma vão aceitar, pois é a vitrine de que uma sociedade diferente da sociedade consumista é viável; uma sociedade menos cruel do que a inserida no sistema capitalista é possível.

Os cubanos, influenciados pela publicidade e propaganda capitalista, trocarão as suas grandes conquistas nas áreas de saúde, educação, artes, esportes e internacionalismo pelas bugigangas eletrônicas dos néscios consumistas? A história nos responderá. Sou cético de que possa haver resistência aos ‘encantos’ do poderoso capitalismo e seus grandes rentistas, que tudo podem, a imagem do deus cristão. Espero estar totalmente enganado.

O aceno de Obama a conciliação é uma grande jogada de marketing e oportunismo no intricado jogo geopolítico. Cuba é um país internacionalista. Os EUA um país terrorista. Com certeza a maçã oferecida por Obama está envenenada.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O HOMEM É BOM?


Lembrei-me recentemente de uma época em que minhas manhãs de sábados eram ocupadas com filmes de arte nos cinemas do shopping recife. As sessões começavam sempre às onze horas e trinta minutos. Eram filmes que não tinham espaço no circuito comercial. Em uma das sessões contei onze pessoas na sala. Os filmes eram excelentes.

Com pouco dinheiro, após o cinema, sozinho, dirigia-me a rua sete de setembro, onde ficava a Livro 7, famosa livraria comandada pelo anfitrião Tarcísio Pereira, pessoa simpaticíssima e agradável, a quem, minha doentia timidez, impediu-me de um convívio mínimo. A Livro 7 chegou a ser a maior livraria da América Latina, infelizmente fechou as sua portas em 1998, após dezoito anos de sucesso.

Lá na sete de setembro, antes de ir ao grandioso e mágico espaço da livraria, paquerar os seus milhares de títulos e, discretamente, as lindas mulheres que por lá transitavam, catando livros em promoção, tomava uns chopes num dos bares da rua, para alegrar a alma e despertar a criatividade, e comia uma pizza média a maneira de almoço.

Em uma dessas vezes, em que mergulhava naquele paraíso, encontrei um livro do Moebius, autor que até aquele momento me era desconhecido, cujo título é “O homem é bom?”, curioso, e com o preço acessível, comprei-o.

Lembrei-me dele agora que a Comissão da Verdade divulgou seu relatório sobre torturas e assassinatos na ditadura militar de 1964.

Já havia tido contato, através do livro “Brasil, Nunca Mais”, das atrocidades cometidas pelos psicopatas e criminosos torturadores contra os valentes jovens que se insurgiram ante o golpe fascista de 1964 à democracia brasileira, sob as bandeiras mentirosas de perigo comunista e da corrupção desenfreada, história que se repete agora com os governos do partido dos trabalhadores, bolivariano e inventor da corrupção e das lutas de classe, a democracia fui estuprada a mundo dos EUA.

A leitura parcial do livro que denunciava as atrocidades contras os presos políticos incomodou-me tanto que me trouxe pesadelos e insônia. Doei-o a uma livraria comunitária, pois a visão da capa do mesmo me fazia mal pelas lembranças das torturas narradas. Não conseguia entender como seres considerados humanos tinha prazer em provocar sofrimento a um seu igual. É triste. Para mim incompreensível. Nojento!

Hoje me pergunto: o homem é bom? Não sei, responde-me Moebius.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

BOLSONARO, O CÃO RAIVOSO


Nunca gostaria de escrever, o que escrevo agora, a respeito de um ser humano. Mas, às vezes, o mau caratismo destrói qualquer traço mínimo de humanismo e empatia possíveis, e aí não podemos nos calar sob pena da conivência.

O deputado Bolsonaro quando abre a boca, que mais parecer uma metralhadora de obscenidades, é sempre para xingar, ameaçar, gritar, denegrir, zombar, espumar, destilar fel, etc., nunca ouvi dele – e se alguém conhece alguma fala, por favor me indique – uma palavra civilizada, de cooperação, de conciliação, de paz em busca do bem comum, que seria sua missão no parlamento.

As suas expressões faciais são sempre de agressividade, de alerta, de tensão: um verdadeiro cão de guarda raivoso.

Fico perguntando como o coração desta criatura aguenta viver em pé de guerra com todos e o tempo todo.

O deputado trata as pessoas, seus iguais, como se fossem suas inimigas a quem tem que eliminar a qualquer custo de sua sociedade distópica e, com requintes de crueldade.

Terá amigos ou apenas aliados? Será amado ou apenas temido?

Por que tanta grosseria e tanto ódio? Por que tanta falta de proposta positivas?

Acha mesmo ele que desta forma irá conseguir criar algo pelo que valha a pena lutar ou deseja conscientemente uma sociedade imposta na base da bordoada, onde apenas alguns poucos eleitos tenham o poder de vida e morte sobre o restante do povo?

Acredito, infelizmente, que a resposta é sim: ele acredita numa sociedade a base da porrada, da intimidação, da tortura, afinal, Hitler, Mussolini e Obama conseguiram, por que ele não conseguiria?

Pode a democracia viver com figuras tão asquerosas quanto o deputado? Bem, segundo as 464.572 pessoas que votaram no mesmo nas eleições de 2014, a resposta é sim.

Mas, o estado democrático e suas instituições, entre elas o legislativo, não podem permitir que tal barbárie se instale na estrutura democrática e ponha seus ovos de serpente a chocar.

Cabe ao legislativo, mormente o congresso, abrir imediatamente processo de cassação por falta de decoro do parlamentar.

Ameaçar alguém de estupro é crime em qualquer esfera do direito, e mais ainda, em qualquer esfera moralmente aceita como civilizada.

Este coronel saudosista de um regime de tortura e arbitrariedade, corrupção e censura, já demonstrou, a granel, não ter a mínima possibilidade de conviver em uma democracia.

Para ele resta o ostracismo, a zombaria, a piedade, as leis e a cadeia, ou o hospício.

Minha solidariedade à deputada Maria do Rosário.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Marina, a escolhida do Senhor; Aécioporto, diretamente de Cláudio e Montezuma



O blog anda abandonado. 

Quatro meses sem nenhum artigo, mas o projeto não foi descartado.

Após as eleições de 2014 pretendo voltar a escrever por aqui.

Primeiro foi a preguiça e outros projetos mas urgentes.

Depois foram as eleições.

Com da trágica morte de Eduardo Campos, Marina Silva despontou como favorita a eleição presidencial, inclusive venceria Dilma, num segundo turno, com diferença de 10 pontos percentuais, isto na primeira pesquisa após ser indicada como substituta de EC pelo PSB.

Eu, eleitor de Dilma, fiquei super preocupado, e só tinha tempo para fazer campanha através da internet, ou em conversas com amigos e conhecidos.

Quando o fenômeno Marina foi se desmanchando, nova surpresa no dia 05/10, desta vez Aécioporto obteve mais de 35% dos votos válidos, ressurgindo das cinzas, resultado que não foi previsto por nenhum instituto de pesquisa, inclusive os considerados de direita, Ibope e Datafolha.

Será que foi proposital essa não percepção da votação de Aébrio? Não sei, mas a pesquisa encomendada pela revista Carta Capital ao Vox Populis, e divulgada em 04/10, considerando apenas os votos válidos, era a seguinte:

  • Dilma            47% 
  • Aécio Neves   26%
  • Marina Silva   23%


Quando apurados os votos, a situação ficou a seguinte:

  • Dilma            41,59%  -  fora da margem de erro
  • Aécio Neves   33,55%  -  escandalosamente fora de qualquer margem  
  • Marina Silva   21,32%  -  dentro da margem de erro

Fica, portanto, difícil de acreditar que a direita sabia do súbito crescimento de Aéciocláudio, e o pessoal de centro-esquerda não.

Provavelmente, e esta análise não é minha, a concentração dos ataques do PT no guia eleitoral, apenas em Marina, deixaram Aéciomontezuma no limbo, o que o levou a inesperada votação.

Também há críticas a campanha do PT em São Paulo...

Outra dúvida que fica é se o pessoal dos institutos de pesquisas desaprenderam estatística, se são incompetentes ou humoristas?

quinta-feira, 5 de junho de 2014

A RESPEITO DE UM ARTIGO DE PAUL CRAIG




Recebo e-mail do amigo e mestre JFHF sobre o artigo Por que a guerra é inevitável, de Paul Craig.

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Prezado Itárcio!

Grato pelo post.

Eu já havia lido outro artigo de Craig no qual ele faz menção à possibilidade de a próxima guerra (na necessidade egoísta de evitar o auto-holocausto da humanidade) valer-se ("convencionalmente", como contraponto a métodos nucleares) de robôs inteligentes.

Mas, antes de expor alguma coisa do que apreendi desse interessante texto de Craig, gostaria de que você expusesse sua maneira de ver o jeito de Craig, considerando a "vida pregressa" dele conforme narração no final do artigo.

Abraço.

JFHF.

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Prezado JFHF!

Paul Craig participou do governo Reagan, governo este tão violento e terrorista quanto Bush ou Obama.

Noam Chomsky tem um livro só sobre as atrocidades do governo Reagan na América Central, afora as atuações terroristas na África e Ásia.

Outra coisa, Reagan e Margaret Hilda Thatcher foram os pais do novo liberalismo, junto com Augusto Pinochet, no Chile, levando ao desmonte, hoje catastrófico, do estado do bem estar social nos EUA e na Europa.

Com certeza absoluta Paul Craig tinha conhecimentos privilegiados de todos esses acontecimentos, então fica a pergunta, por que agora acusa apenas os governos Bush e Obama e se omite em relação Reagan?

Acredito que após o 11 de setembro, com suas diversas leis e resoluções que caçaram direitos civis aos próprios cidadãos estadunidenses, tais como o direito ao habeas corpus, ao devido processo legal, a presunção de inocência e a possibilidade de serem espionados sem a necessidade de autorização judicial, Craig tenha tido um despertar, um sentimento de medo, raiva, decepção e, por que não, de arrependimento.

Enquanto apenas os direitos dos povos não norte-americanos estavam sendo desrespeitados em nome da “democracia” o do estilo de vida estadunidense, essas atrocidades pareceriam naturais: o povo civilizado escolhido por Deus X povos bárbaros amaldiçoados pelo Deus do EUA.

Quando tais atrocidades se deram contra o seu próprio povo, com Bush, e mantidas por Obama, Craig, creio eu, passou a confrontar e a comparar que se tais atitudes o incomodavam em relação ao seu país, trazendo, ainda, malefícios ao seu povo, algo, portanto, estava errado e deveria ser revisto.

Crítico do sistema do qual participava como ator significativo, crítico de si mesmo, de suas ações, o que é raro acontecer, principalmente quando já somos velhos e temos sedimentados alguns princípios dos quais não abrimos mão, passou a usar o seu conhecimento privilegiado, a sua indignação com a escravidão do seu povo e o sentimento de que seus atos foram maléficos, e ele apenas um  serviçal dos financistas e empresários das guerras, para diminuir o seu mal estar em ter servido a um objetivo tão canalha.

No próprio artigo, Craig cita Smedley Butler, General da Marinha:

(...) eu servi em todos os postos, de 2º tenente a general. Durante todo esse tempo, operei como leão de chácara musculoso para as grandes negociatas, para Wall Street e para os banqueiros. Em resumo: nunca passei de delinquente a serviço do capitalismo.

Seriam esses também sentimentos de Craig?

É só uma tese, dentre outras possíveis, mas, as críticas aos governos Bush e Obama são coerentes com a de outros pensadores de esquerda tais quais Noam Chomsky e James Petras, entre outros.

Abraços,

Itárcio.
                                                                        .

domingo, 23 de março de 2014

CARPINA, FLORESTA DOS LEÕES

Leão da Nemeia - *Imagem daqui


Em 1962 nasci, em Carpina, cidade da Zona da Mata, no Estado de Pernambuco. Não foi um grande acontecimento; nem um acontecimento pequeno; foi um acontecimento microscópico. Apenas para os meus pais, creio, foi algo relevante. Era um sábado, 17 de novembro, às 16 horas. Sobre este fato escrevi, mais de quarenta anos depois:

“Quando nasci em Carpina, em 1962,
para uma vida de merda,[1]
não havia nenhum anjo safado de plantão,[2]
um bêbado, um louco e um poeta[3] então me disseram:
vai, Itárcio, se fode na vida.[4]

Com um ano de idade fui acometido pelo vírus da pólio, que me deixou várias sequelas, no corpo e na alma:

Com um ano de idade, a pólio me abraçou
como uma camisa de força a um louco
e me deixou sequelas no corpo e na alma.”

A origem dos nomes da minha cidade... Quando nasci e cresci, na Rua de São José, número 80, Carpina já era Carpina, desde 1948; antes se chamava Chã do Carpina; depois, por ocasião da revolução de 1817, Floresta dos Leões. Muito antes do meu nascimento os leões haviam sido extintos pelos caçadores, interessados por suas peles, dentes e unhas; e posteriormente, Carpina.

A Praça de São José... Tanto a praça dos leões quanto a Rua de São José eram para mim as maiores maravilhas do mundo. Eram gigantes, lindas. Nunca vira monumento ou cidade com tão imensa beleza a ser descoberta, vivida, sonhada.

A festa de Reis era de uma grandiosidade que lembrava - lembrava? – as festas pagãs dos antigos povos gauleses, celtas, indígenas, africanos. Tudo era mágico. As barracas de jogos, as argolas, a pescaria. Balões que voavam sozinhos, bolas de erva doce, sonhos e mais sonhos.

Minha doença e o tabu de falar com a família sobre ela... Durante mais de cinquenta anos, nunca tive coragem de conversar sobre minha doença com os membros de minha família. Para isto havia inventado uma estória que me satisfazia: dizia às pessoas que me perguntavam se eu tinha sido vacinado que sim, mas que várias crianças na minha cidade adoeceram, o que era verdade, e que provavelmente as vacinas haviam sido mal acondicionadas e estava sem validade, o que era mentira. Na verdade não fui vacinado.

As férias em Pontas de Pedras... Pelo menos tive a oportunidade de ter várias férias em Pontas de Pedras, pois o banho de mar e o sol metabolizavam algo em meu corpo que fizeram que minhas pernas, as partes do meu corpo mais afetadas, tivessem um crescimento além da média.

Não encontrei apenas a saúde em Pontas de Pedra, mas o amor, a diversão, a liberdade e o gosto pela música.

O gosto pela música... Estava à toa na vida... O amor de Emília... Os banhos de mar... Liberdade e diversão. Saudades de Pontas de Pedras... Tempos que não voltam mais.

(Itárcio Ferreira)






[1] ObrigadoFerreira Gullar.
[2] Obrigado, Chico Buarque.
[3] Obrigado, Sebastião Vila Nova.
[4] Obrigado, Drummond.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Eu e Alice, no país das Maravilhas, tomando chá de cogumelos (para não esquecermos FHC)



Confesso que às vezes acho que me encontro vivendo dentro do livro “Alice no país das maravilhas”, de Lewis Carol. Não acho que toda aquela loucura poética e filosófica, que me causava medo quando criança – claro, pois o livro é para adultos – fosse pior do que viver, ou melhor, pagar pena, numa sociedade capitalista.

Nos dois governos neoliberais de FHC, a tirânica e malvada Rainha de Copas era nossa desgovernanta. Pobre Rainha, tão inocente! Por aqui não tínhamos sequer um Rei de Copas, infelizmente.

A Rainha, com seu modo de governar, lembra muito o nosso sistema judicial atual, pós-ministros justiceiros, muitas vezes mimados, outras tantas chantageados, pela grande imprensa: determinar a culpabilidade o mais rápido possível: Culpados! Cortem-lhes a cabeça! Antes dos ritos processuais, antes da defesa, antes do veredito, da sentença.

Invertendo o brocardo jurídico de que “ninguém é considerado culpado antes de sentença transitada em julgado”, para: “é culpado, por que assim afirmamos, assinado, o PIG”.

As medidas arbitrárias daquela época, agora no país Brasil do “esqueçam o que escrevi”, com a venda de nosso patrimônio material e intelectual de nossas estatais aos financistas internacionais e nacionais, em nome do “Consenso” de Washington, foi o maior crime já perpetrado contra o nosso país, a nossa nação, o nosso povo. A Rainha de Copas era incapaz de tanta bandidagem.

Não só o escândalo da Vale do Rio Doce, vendida por menos de 5% por cento do seu valor real, o que numa verdadeira democracia, uma democracia consolidada, teria, no mínimo, levado FHC e seu séquito a prisão, senão a pena de morte, pela traição, crime de lesa pátria e lesa humanidade praticados contra a nossa nação.

Lembro-me da marretada do STF quando, contra a Constituição Federal, apreciou a inconstitucionalidade da Lei nº 9.478/97, julgando-a, para espanto do mundo jurídico, constitucional.

Abrindo um parêntesis, e tentando ser justo, o que é extremamente difícil e raro, FHC foi muito, mas bota muito nisso, mais competente do que Lula na indicação para a procuradoria geral da união e para os assentos de ministros do STF, ninguém pode negar tal fato, a Lei nº 9.478/97 esta aí, válida, para provar o dito.

O Brasil era um desastre anunciado, nada poderia mudar seu rumo ao precipício, não havia esperança, foram oito anos de desespero.

No plano internacional havia ainda mais dois ídolos do neocons nacionais e importados, Menen, que faliu a nossa irmã Argentina e a “lenda” Fujimori, que roubou o povo peruano por dez anos, e era apontado, por todos os áulicos neoliberais, como um exemplo, pomposo, a ser seguido e imitado, de administrador do futuro.

Aí de quem na época criticasse Fujimori e seus clones, FHC e Menen, pois éramos tidos como burros, parvos, comunistas frustrados, dinossauros, e outras coisitas mais.

Lembro-me quando fazia mestrado na UFPE e uma professora, de didática do ensino superior, se não me engano, dizia que Marx estava morto e enterrado; outro, este de ciências políticas, era mais babão da política externa dos EUA do que a Veja.

Findei não concluindo o mestrado por várias razões:

1)      Timidez. Sempre entrava em pânico quando tinha que ministrar alguma aula;
2)      Pelo conteúdo conservador do programa;
3)      Por motivo de doença, tive depressão;
4)      Pelo fato da grade curricular ter mais ou menos 50% de matérias ligadas à administração, o que eu detesto.

O item três foi o que realmente mais pesou na minha decisão. Tive depressão, a doença estava ligada ao fim do meu terceiro casamento, que se consumou em setembro de 2002; ao fato de minha filha mais velha ter um diagnóstico positivo de câncer na tireoide – hoje ela está mais linda e mais saudável do que nunca; e, em terceiro lugar, a um professor, de uma cadeira ligada às ciências contábeis, de nome Miranda, que se auto intitulava um torturador.

Em aula, era um péssimo professor, diga-se de passagem, fazia apologia à tortura, e aquilo me causava um dano emocional tremendo. Minha vontade era de dar um murro na cara do sujeito e jogá-lo da janela do prédio da SUDENE, décimo e não sei quantos andares abaixo. Mas como não nasci com os ovos roxos de Collor, nem para ser assassino de um ser insignificante, resolvi desistir. Tal fato foi a gota d’água para minha desistência.

Com Menem e Fujimori finalmente desmascarados e presos, acreditávamos que FHC teria o mesmo destino por aqui. Infelizmente erramos feio.

Além do governo Lula não ter revisado os processos das privatizações, ou doações do patrimônio público a uma corja de bandidos de gravatas, como prometeu, calou-se de maneira covarde quanto à venda, digo, a concessão não onerosa da Vale.

A Lei nº 9.478/97 continuou valendo, firme e forte, nem sequer foi questionada junto ao STF, talvez pela certeza de um resultado negativo, contra o povo, em virtude das indicações equivocadas, e displicentes, de ministros para o STF, pelo governo trabalhista, ou qualquer outro interesse, que não consigo entender, ou me recuso a admitir.

Um dos momentos mais tristes deste período foi o massacre dos guerrilheiros Tupac Amaru, no Peru, que haviam invadido a embaixada do Japão, e num gesto de incrível condescendência, liberto a mãe do então golpista e ditador Fujimori.

Os guerrilheiros foram fuzilados, sem nenhuma resistência, pelas forças armadas peruanas, que, na invasão para a retomada da embaixada, ainda mataram dois ou três reféns, como noticiou a imprensa à época. Os terroristas do Tupac Amaru não foram responsáveis por nenhuma morte.

Na mesa de bar de Seu Hélio, ou no Copo Sujo, dois bêbados, eu e meu amigo Pena Branca, sempre chorávamos ao relembrar este episódio. Em regra, a trilha sonora era composta por “Moon River”, de Henry Mancini e Johnny Mercer; e de “Menino Passarinho”, de Luiz Vieira: no violão de Pena Branca, na voz de Itárcio, e no desejo inconsciente da humanidade em busca da alegria, da solidariedade e da paz. 

Tempos ruins aqueles! Tempos ruins se aproximam! Saudades da Santa Madre União das Repúblicas Socialistas Soviéticas!

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Whiteblocs, ditaduras, democracias e a demonização dos protestos populares (É crime passível de perseguição, e bullying cibernético, criticar os governos do PT?)





Na França é crime contestar a versão oficial do holocausto judeu.

No Japão, a divulgação de qualquer notícia ou crítica sobre Fukushima, é crime passível de pena de até dez anos.

O conceito de whiteblocs, ora difundido pela internet, é amplíssimo. Qualquer cidadão, indo da extrema-direita a extrema-esquerda, passado pelo centro, centro-direita, centro-esquerda, apolíticos, alienados, coxinhas e empadinhas, etc., podem ser enquadrados no vastíssimo e genérico conceito. Uma pérola fascista!

Mais afinal o que é um whiteblocs? É a versão on line dos blacks blocs, ou seja, arruaceiros, desordeiros, fascistas, espancadores de policiais, e mais uma gama de adjetivos nenhuns pouco lisonjeiros.

Com o tempo, passei a não acreditei na democracia, pois, a que temos é um rascunho, um arremedo, da "verdadeira": votar e consumir. Na verdade, mesmo esse rascunho, só vale se as regras da extrema-direita estiverem valendo, e se os seus representantes estiverem ganhando o jogo. Caso contrário, ela é detonada em nome da... Democracia, modelo estadunidense, o único que pode existir no mercado, no mundo, senão é bomba na cabeça, é de fósforo branco.

Os exemplos são gigantescos, o golpe fascistas de 64, no Brasil; o golpe de 2002, na Venezuela; a tentativa de golpe, na mesma Venezuela, que está acontecendo hoje, sob nossos olhos; Honduras, Paraguai, Ucrânia[1], etc.

Demonizam-se os black blocs, tanto a direita, com a finalidade de criminalizar todo o movimento social civil organizado; quanto a esquerda, pelos mesmos motivos da direita e para que as manifestações na afetem a reeleição da presidenta Dilma.

Afinal, não pode haver manifestações de insatisfação nas democracias? Pode, responderão, mas pacíficas. Pausa para rir. Respondo, então: ensinem as polícias militares a serem pacíficas,  a respeitar os direitos humanos, os manifestantes e o seu direito de protestar. Polícias estas que não estão nem aí para os governos estaduais, a não ser os de direita, por identificação ideológica, como por exemplo, o do Estado de São Paulo, reduto mais reacionário do país, onde seus comandantes supremos são os chefes dos executivos; e muito menos para o governo federal, que não paga seus salários. Por sinal, um salário de fome! Exceção para os salários dos oficiais.

O governo Dilma, como é do conhecimento até dos bebinhos do Mercado da Vista e do Copo Sujo, deu as costas a esses movimentos, e por conta da “governabilidade” e do “pragmatismo”, aliou-se as forças mais retrógradas do nosso país, da nossa sociedade, a exemplo do agronegócio.

Encontramos uma definição de whiteblocs no artigo do professor Wanderley Guilherme dos Santos, portal Carta Capital, um excelente articulista, que admiro e respeito, mas, que foi infeliz nesta produção: “A nova era da violência” [2], um artigo raivoso que considera qualquer crítica aos governos trabalhistas como uma heresia a ser punida.

Ainda em relação ao artigo,  é de se informar, para aqueles que tiverem a curiosidade de lê-lo, que na época ditadura de 64, mesmo aqueles que faziam críticas a "ditabranda" da Folha de São Paulo, não tinham espaço na imprensa para divulgá-las.

Outra coisa, à época da ditadura não existia a internet, que é um espaço plural, ao alcance de qualquer um que queira se pronunciar, e não é preciso ser um intelectual não, pode ser até quem não conheça bem a nossa língua, tenha dificuldade de se expressar, pois assim estaríamos sendo excludentes, na verdade TODOS têm o direito de falar, escrever, de se expressar, o que não é bem visto pela grande imprensa não livre, desde o doutor ao lixeiro, passando pelo jornalista e donos(as) de casa.

No artigo a falácia argumentum ad hominem, é largamente utilizada, o que descredencia toda a argumentação. A considerarmos o conceito de whiteblocs no texto do professor Wanderley, ouso acrescentar raivoso e preconceituoso, jornalista e pensadores tais quais Azenha, Nassif, Idelber Avelar, Maurício Caleiro, Atilo Bóron, Gilson Sampaio, Brasil de Fato, etc. etc. etc., seriam enquadrados como whiteblocs, por falta de clareza do texto.

Seria interessante ressaltar, ainda, dois aspectos, antes de criminalizarmos os manifestantes em sua totalidade: (i) nem todos os manifestantes são black blocs. Muitos são coxinhas, fascistas e agentes infiltrados (P2), com o único objetivo de fazerem baderna e confusão; (ii) A polícia é responsável por muito mais agressões, são treinadas para isso, o que é sabido por qualquer observador, até os menos atentos, do que os manifestantes, e neles incluídos o subgrupo dos black blocs. 

Todo e qualquer conceito, para ter credibilidade, e por honestidade intelectual, deve ser bem claro, objetivo, não deixar margens para dúvidas, sob pena de fogo amigo, entres outras, muitíssimas, consequências.


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[3] Tentei postar, hoje, 23/02/14, entre às 13:00 e 13:37 horas, o comentário abaixo no portal da Carta Capital, mas não consegui:
"Com todo o respeito e admiração ao professor Wanderley, achei o artigo confuso, diferentemente de outros excelentes artigos de sua lavra. O uso, reiterado, da falácia argumentum ad hominem, prejudica, e muito, a argumentação. Há que se separar, para que fique bem claro ao leitor, os críticos dos governos trabalhistas, à direita e à esquerda. Todos são whiteblocs? Por acaso é crime criticar tais governos? Tenho várias críticas a eles, todas sob o olhar da esquerda, mesmo assim votarei em Dilma novamente, mas, ressalte-se, por falta de uma opção mais a esquerda. A criminalização dos movimentos sociais, e mesmo dos black blocs, é nociva a quaisquer governos progressistas. Os que não querem diálogos são os coxinhas, os fascistas e os P2s. No final da leitura, nenhuma crítica às forças de repressão. Afinal, as polícias militares são compostas, apenas, de homens santos? E os manifestantes, incluídos aí os black blocs, apenas de demônios desordeiros?"