Tenho uma experiência pessoal a respeito do uso
de drogas, lícitas e ilícitas.
Aos 11 anos de idade comecei a utilizar bebidas
alcoólicas. Eu era muito tímido, e o álcool dava-me coragem para sorrir,
conversar, “paquerar” as meninas, etc.
Aos 15 anos, ainda usando o álcool, aliás, uso-o
até hoje, tenho 51 anos, experimentei maconha pela primeira vez, não gostei,
mas para me afirmar no grupo fumava vez ou outra, mas sem prazer algum.
Do meu grupo de umas quinze pessoas, da infância
até a adolescência, entre homens e mulheres, um morreu de acidente de
carro dirigindo embriagado e o outro de AIDS. A morte por aids nada teve há
haver com as drogas, mas por transmissão sexual, ele era bissexual, e na época
pouco se sabia sobre a doença.
Na minha casa só eu bebia, mas meus pais e minhas
três irmãs fumavam cigarros, e muito, uma ou duas carteiras por dia, isto durou
uns vinte anos. Uma de minhas irmãs, com 49 anos, teve câncer de mama, não sei
qual o percentual do cigarro na doença.
Eu bebia muito. Às vezes a ressaca moral durava
dez vezes mais que a ressaca causada pelo álcool, mas nunca consegui parar. Aos
23 anos descobri que tinha depressão, quem nunca teve não sabe o horror dessa
doença, é algo que não desejamos ao mais asqueroso ser humano.
Apesar da bebida, estudei, fiz graduação,
pós-graduação e comecei um mestrado que não terminei por que tive uma longa
crise depressiva (2002). Agora estou novamente em crise depressiva, desde maio
de 2012.
Apesar da bebida, e do eventual baseado, fiz
vários concursos e hoje exerço um cargo que é o top para a minha graduação. Não
me acho especial por isso, mas tira o peso de que eu iria fracassar, sob o
ponto de vista capitalista, por ser um alcoólatra. Hoje não acho tão legal ter
seguido a minha carreira atual, queria mesmo era ser jornalista, mas, ce
la vie.
No meu trabalho, tenho um grupo de amigos, eu e
mais três, todos bebem muito. C. é matemático e filósofo, além de ser o melhor
ser humano com quem já tive contato aqui no planeta; A. é matemático e J. é
economista e historiador, conversar com eles numa mesa de bar é como estar em
uma aula de humanismo, história, filosofia, entre outras coisas.
Casei, tenho três filhos e dois netos; continuo
bebendo para aguentar viver neste planeta tão injusto, sinto-me impotente e
bebo para a vida não ser tão amarga, para não cometer suicídio.
Continuo a consumir várias drogas, entre elas,
vários remédios para depressão; agrotóxicos nas frutas, legumes e vegetais;
conservantes e diversas substâncias cancerígenas em alimentos embalados,
enlatados, engarrafados, etc.
Por tudo isso sou a favor da descriminalização de
todas as drogas ilícitas. É um sonho que não verei, nem mesmo a maconha, droga
tão leve e que não causa qualquer dano social, está longe de ser
descriminalizada. O tráfico de drogas movimenta bilhões de dólares anuais em
todo o mundo, além de ser casado com o tráfico de armas. Derrotar esta
indústria bilionárias é quase impossível, ou melhor, é impossível.
Recife, 2013.