Lembrei-me recentemente de uma época em que
minhas manhãs de sábados eram ocupadas com filmes de arte nos cinemas do
shopping recife. As sessões começavam sempre às onze horas e trinta minutos.
Eram filmes que não tinham espaço no circuito comercial. Em uma das sessões
contei onze pessoas na sala. Os filmes eram excelentes.
Com pouco dinheiro, após o cinema, sozinho,
dirigia-me a rua sete de setembro, onde ficava a Livro 7, famosa livraria
comandada pelo anfitrião Tarcísio Pereira, pessoa simpaticíssima e agradável, a
quem, minha doentia timidez, impediu-me de um convívio mínimo. A Livro 7 chegou
a ser a maior livraria da América Latina, infelizmente fechou as sua portas em
1998, após dezoito anos de sucesso.
Lá na sete de setembro, antes de ir ao grandioso e mágico espaço
da livraria, paquerar os seus milhares de títulos e, discretamente, as lindas
mulheres que por lá transitavam, catando livros em promoção, tomava uns chopes
num dos bares da rua, para alegrar a alma e despertar a criatividade, e comia uma
pizza média a maneira de almoço.
Em uma dessas vezes, em que mergulhava naquele
paraíso, encontrei um livro do Moebius, autor que até aquele momento me era
desconhecido, cujo título é “O
homem é bom?”, curioso, e com o preço acessível, comprei-o.
Lembrei-me dele agora que a Comissão da Verdade
divulgou seu relatório sobre torturas e assassinatos na ditadura militar de
1964.
Já havia tido contato, através do livro “Brasil, Nunca Mais”,
das atrocidades cometidas pelos psicopatas e criminosos torturadores
contra os valentes jovens que se insurgiram ante o golpe fascista de 1964
à democracia brasileira, sob as bandeiras mentirosas de perigo comunista e da
corrupção desenfreada, história que se repete agora com os governos do partido
dos trabalhadores, bolivariano e inventor da corrupção e das lutas de classe, a
democracia fui estuprada a mundo dos EUA.
A leitura parcial do livro que denunciava as
atrocidades contras os presos políticos incomodou-me tanto que me trouxe
pesadelos e insônia. Doei-o a uma livraria comunitária, pois a visão da capa do
mesmo me fazia mal pelas lembranças das torturas narradas. Não conseguia
entender como seres considerados humanos tinha prazer em provocar sofrimento a
um seu igual. É triste. Para mim incompreensível. Nojento!
Hoje me pergunto: o homem é bom? Não sei,
responde-me Moebius.
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