Marinaleda

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RESIGNAR-SE, NUNCA!

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Paulo Freire e o capitalismo


No seu livro “Pedagogia do Oprimido” (1968) Paulo Freire narra uma oficina, num trabalho de campo, com moradores pobres de Nova York, não lembro se no Harlem ou no Bronx, me corrijam, ode lhes eram perguntado, diante da pobreza e do lixo acumulado nas ruas, o que lhes vinham à cabeça, à imaginação? A resposta foi, não recordo das palavras exatas: “tudo isto nos lembram uma rua de um país latino-americano”.

O que isto significa? Significa que nós temos dificuldade de nos reconhecer, ou nunca nos reconheceremos, a nossa situação de oprimidos, delegando este mal estar a um terceiro e desta forma, através da alienação, podermos suportar o fardo da vida.

Lembrei deste episódio após ler um artigo onde o autor conta suas experiências em visita que faz a cidade de Baltimore, nos EUA, que segundo ele “é [uma cidade] produto de uma sociedade desigual, racista, violenta, injusta e pouco democrática.”

Depois o autor compara Baltimore (EUA) com Cuba, que têm realidade TOTALMENTE opostas. Lembremo-nos aqui do bloqueio criminoso dos EUA a Cuba, há mais de 50 anos. Tudo o que Baltimore é, Cuba não é: “produto de uma sociedade desigual, racista, violenta, injusta e pouco democrática.”

Ao contrário, o estado cubano oferece ao seu povo o que há de mais precioso para o ser humano, saúde e educação, universais e gratuitas.

Dizer, como diz o autor, “talvez seja difícil saber o que queremos para o Brasil. Mas certamente começar o debate sabendo que não queremos ser nem Cuba nem Baltimore já seria um bom começo.” Por que não ser Cuba? Não ser Baltimore tudo bem, pois ela é “produto de uma sociedade desigual, racista, violenta, injusta e pouco democrática.”

Novamente a pergunta: que não ser Cuba?.

Lembrei-me aqui de uma fala de um personagem do excelente romance “O Tigre Branco”, do indiano Aravind Adiga:

- “As eleições mostram que os pobres não são ignorados. A Escuridão não ficará calada. Não há água nas nossas torneiras, e o que vocês, aí de Déli, nos dão? Celulares. Será que um homem pode beber um telefone quando está com sede? As mulheres têm que caminhar quilômetros todas as manhãs para encherem um balde de água limpa...”

Eu quero ser Cuba. Eu NÃO quero ser Baltimore.

Inclusive, no Brasil, várias pessoas, que ainda passam fome, não têm um teto ou escola,  são assassinadas em suas terras pela ganância do agronegócio e descaso dos governos, gostariam, SIM, de ter um nível de vida igual a Cuba, NUNCA igual a Baltimore.

Uma realidade é ruim, cruel, desigual, por ser tudo isto e não precisa ser comparada com o que quer que seja para continuar sendo ruim, racista, violenta, desigual. Vamos ler mais Paulo Freire, gente!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Praticar exercícios, comer bem e manter hábitos saudáveis... SQN


Eu posso ser feliz com o meu corpo

A sociedade capitalismo, orácula do pensamento único, impõe modelos a todos os aspectos da nossa vida cotidiana, dentre estes modelos está o do corpo impecável, tanto para homens, mas principalmente para mulheres.

Os corpos dos homens e mulheres devem ter uma determinada forma: sarados, malhados, coxas grossas para ambos, seios fartos para as mulheres, barriga trincada, etc., um ideal dificílimo, na maioria das vezes, impossível de ser alcançado por reles humanos. E para aqueles que ficam fissurados no modelos photoshopados, a dedicação a uma vida exclusivamente em academias e uma alimentação a base de produtos que ajudam na definição de um corpo “bonito”, requer dedicação diária, um virtuosismo corporal.

Muita gente tem reagido a isto, vários artigos e textos, de qualidade, publicados em sites e blogues, inclusive vários que tenho o habito de visitar, acionam o sinal vermelho, argumentão contra a necessidade do modelo corporal fetichista, mostram os reais interesses capitalistas, comerciais e de alienação por traz da loucura de se adquirir um corpo “perfeito”.

Mas, mesmo os articulistas sérios, preocupados com a loucura de se transformar um corpo normal em outro, parecido com o Hulk, sempre batem na mesma tecla, como uma outra “verdade” absoluta: praticar exercícios, comer bem e manter hábitos saudáveis.

Da mesma forma que a busca de um corpo photoshopado é impossível sob a ditadura sócio-mercantilista, o tripé: praticar exercícios, comer bem e manter hábitos saudáveis é uma forma de padronização e de ditadura.

Por que “devo” dogmaticamente praticar exercícios? Por que devo, comer bem, aliás, o que seria comer bem quando vivemos cercados de transgênicos e agrotóxicos? Por que manter hábitos saudáveis, sob pena de reprovação social, se no meu trabalho, no trânsito, na leitura diária da grande mídia meu estresse chega a mil?

Uma maneira de se viver, por mais saudável que possa parecer, não pode e não deve ser imposta a todos como a correta.

Duas coisas para finalizar, a primeira, só poderemos nos alimentar bem no dia em que os alimentos pararem de ser uma mercadoria, e isto no capitalismo é impossível. A segunda, não ditem regras de como devo viver a minha vida, as nossas vidas.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Sobre comunistas e nazistas


Não sei se é por força do hábito, preguiça ou se é para parecer isento política e historicamente, mas, vários artigos e textos, escritos por jornalista, historiadores, etc., trazem a mesma forma ou fórmula quando querem apresentar algum fato histórico violento ou desumano: "equivalente às realizadas pelos soviéticos e pelo nazismo".

Não querendo esgotar o assunto, pois, isto, na verdade, seria impossível, aponto, imediatamente, duas falhas nesta fórmula fácil e mentirosa historicamente:

I. Os regimes soviéticos e nazistas eram tão antagônicos, portanto, de métodos opostos de ação, que foram os grandes atores da II Guerra Mundial; o nazismo, com a grande ajuda, tecnológica, financeira, logística, etc. dos EUA e do Reino Unido foram criados, inflados e armados, com um único intuito: destruir a URSS. Não conseguiram e por ela foram destruídos.

II. Para que a fórmula fosse menos "preguiçosa" e historicamente "mais" verdadeira, tendo em vista que a versão que conhecemos "desta história" é a versão oficial do capitalismo e do ocidente, deveria a mesma ter a seguinte mínima formatação "equivalente às realizadas pelos espanhóis, portugueses, estadunidenses, ingleses, franceses, belgas, japoneses, soviéticos e alemães".