Mercado da Boa Vista (Recife)
Dia
dezenove de outubro perdi um amigo, e também colega de trabalho. Jefferson. Um infarto fulminante o levou a morte, aos cinquenta e
sete anos de idade.
Além
da dor da sua ausência, a sua morte me faz refletir sobre o clima de
ódio que estamos vivenciando atualmente. Clima criado e alimentado
vinte e quatro horas por dia pela grande mídia hegemônica, a
serviço das elites nacionais e internacionais.
Meu
amigo Jefferson era um anti-petista convicto; nunca votou em Lula ou
Dilma, tinha FHC como seu maior ídolo político, acreditava na eficiência
do deus mercado e admirava os EUA como modelo de democracia e
sociedade perfeitas.
Mas, nunca foi de viajar para o exterior, preferia a companhia dos "matutos" de Sucuru, distrito da Paraíba, onde tinha uma terras, criava uns bodes e bebia cachaça, com os nativos, ouvindo cantorias.
Eu,
ao contrário, sempre votei em Lula e Dilma, a única exceção foi
no primeiro turno das eleições presidenciais de 1989, quando votei
em Brizola, sou
de esquerda, bolivariano, comunista, etc., etc., etc.
Apesar
de termos uma visão de mundo oposta, ele, de direita, eu, de
esquerda; ele tendo FHC como ídolo e eu como um criminoso
privatista; tínhamos uma convivência pacífica. Bebíamos, junto
com outros amigos, muitas vezes no Mercado da Boa Vista, aqui em
Recife; amávamos poesia e MPB e nos repeitávamos como pessoas
pensantes, únicas e civilizadas.
Sentirei
falta do amigo, sempre emotivo, o que me fazia lembrar do
personagem Marco(*) do filme “Fale com ela”, de Almodôvar; e sensível as artes, adorava poesia,
principalmente a de vertente popular, ainda mais agora que
ser de certo aspecto político contrário passa ser automaticamente “inimigo”
de quem tem um aspecto político diverso.
Recife, 21/10/2015
14:44 horas.
(*)
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-83332004000200014&script=sci_arttext