Preciso confessar. Está engasgado na minha garganta. Preciso
falar, até para mim mesmo e aproveitar as minhas palavras como forma de
progredir como ser humano.
Sou um homem de esquerda. Aprendi a ser feminista. Não abro
mão dos meus sonhos de uma sociedade justa, mesmo diante da morte.
Cheio de falhas, vou evoluindo constantemente ou penso que
sim.
De repente me pego em falha ética, pois, ao contrário da
GRANDE maioria dos amigos, jornalistas, blogueiros, etc., pessoas de esquerda,
pessoas que admiro e aprendi a ouvir/ler, não consigo sentir empatia pela
jornalista Raquel Sheherazade.
Reconheço que ela sofreu assédio moral. Tomará alguma
providência? Duvido.
Claro que Sílvio Santos não poderia tratá-la da forma que a
tratou, nem a ela nem a ninguém. Mas ela tem opção, por que não reagiu? E o que
ela esperava receber de um espécime de pessoa como o “patrão”? Ela tão
arrogante e violenta com os esquerdistas é uma cordeirinha vendida por um
gordíssimo salário.
Não é surpresa para ninguém, que Sílvio Santos humilhou,
humilha e continuará humilhando calouros, jurados, mulheres do seu auditório,
travestis que lá vão se apresentar, etc., mas, nunca vi uma indignação tão
GRANDE como a que está se vendo com esculhambação do patrão à empregada famosa.
Não vi/ouvi, nem na TV, que há mais de 20 anos não assisto,
nem na internet as merdas que Sílvio Santos falou para ela, apenas li transcrições.
Não gosto de ver ninguém ser humilhado, mesmo aquelas
pessoas por quem tenho ojeriza. Não me sinto bem. Fico constrangido. Indignado.
A verdade é não vejo Sheherazade como mulher, socialmente falando,
“ninguém nasce mulher...”, ou como empregada. Duvido que, na sua ânsia por
poder, prestígio e dinheiro ela fosse defender o indulto às mulheres, negras e
periféricas, em sua grande maioria presas por porte de drogas. Duvido,
novamente, que reconheceria o direito de greve dos empregados do SBT, se fosse
o caso.
Pergunto-me por que ela, a Sheherazade se passa, como mulher,
jornalista e ser a porta-voz da intolerância? Para mim é simplesmente por fama
e dinheiro. Não admiro esse individualismo. Não posso ser solidário a tal
figura nefasta só por que ela é mulher.
Todos os dias, para quem a assistiu, ela, com suas falas
hidrófobas, humilhava os marginalizados, os mais frágeis, e dentre os mais
frágeis estão as mulheres. No entanto, foi tão passiva diante do bilionário branco… cadê
a sororidade, Raquel?
“Mexeu com uma mexeu com todas” para mim não é argumento
suficiente para defender ou sentir empatia por Raquel Sheherazade.
Estou sendo bem sincero e me expondo a críticas junto às
pessoas que admiro, pessoas de esquerda, claro.
No momento em que ela, usando uma concessão pública,
destilava seu ódio contra os marginalizados, a soldo do Sílvio, ali ela era
toda poderosa e arrogante. Não havia limites para os seus arroubos, claro, que
com a autorização do todo poderoso do SBT.
Vítimas da sociedade patriarcal somo todos nós,
principalmente, claro, as mulheres. Dentre as mulheres as mais frágeis
socialmente. As com os piores empregos, as mães que cuidam só dos filhos,
abortados pelos pais, as presas por porte de drogas, as periféricas, as negras,
as lésbicas, as travestis, as trans. Sou solidário a todas, mas não consigo
sentir empatia pela jornalista.
Peço perdão aos que discordam de mim. Sou falho, rancoroso,
humano, demasiado humano. Não sou perfeito, ao contrário.
Nunca perderia o meu tempo e minha pena em solidariedade a
ela. Ela é minha inimiga. Bolsonaro é meu inimigo. Os EUA, o Bradesco, Temer,
Moro são todos meus inimigos. Meu tempo e minha pena são solidário com os 99%,
não com escrotos.
Admiro a todos que a defenderam, dentre eles, Cynara
Menezes, Nelson Barbosa, Elika Takimoto, mas, não alcanço a sabedoria dos
mesmos.